Em 13 de dezembro de 1968, o Brasil mergulhou oficialmente na ditadura. O Ato Institucional nº 5 concentrou poderes absolutos no Executivo, fechou o Congresso, suspendeu direitos políticos e eliminou garantias fundamentais. Ao impedir o controle judicial e suspender o habeas corpus, o AI-5 institucionalizou a repressão, a censura e a violência de Estado. Nesta matéria especial, Relatos revisita os 57 anos do AI-5 e explica, de forma didática, o que define uma ditadura – e por que lembrar esse período é essencial para a defesa da democracia.
relatos.blog.br Publicações
Prometeram sanções globais e intervenção estrangeira. Juraram que o Imperador Laranja viria salvar o dia. Brandiram a Lei Magnitsky como espada sagrada e ameaçaram todo mundo. Chegaram a enxergar porta-aviões no Lago Paranoá. Mas o navio virou miragem. A boia foi recolhida. E o Exército de Brancaleone tropical ficou no barranco. Sem resgate. Sem plano. Só o eco das próprias bravatas e do delírio.
A política brasileira – e parte da política mundial – vive um sequestro silencioso. Extremistas, milícias e bilionários ocuparam o espaço deixado por partidos fracos. Nos EUA, o colapso dos filtros permitiu a ascensão de Trump. No Brasil, abriu caminho para Bolsonaro e para o crime organizado no Rio de Janeiro. Quando os guardiões abandonam o portão, a democracia entra em deriva. Eleições continuam existindo, mas perdem o sentido democrático. Este texto mostra como o sequestro ocorreu – e por que ainda pode piorar.
João Goulart morreu há 49 anos, mas os mitos que cercam sua figura continuam moldando a memória do golpe de 1964. Acusado injustamente de comunista, tachado de fraco e responsabilizado por um suposto caos econômico, Jango foi, na verdade, um líder moderado, legalista e profundamente comprometido com reformas sociais que poderiam ter mudado o Brasil. Neste perfil histórico, desmontamos dez mitos que marcaram sua trajetória – das relações com o getulismo ao enigma de sua morte no exílio. Uma revisitação necessária a um presidente que o país ainda não compreendeu por completo.
Cinquenta anos após sua morte, Hannah Arendt permanece como uma das vozes mais agudas para compreender o século XX – e o nosso tempo. Judia alemã, intelectual brilhante, viveu amores controversos, como o romance com Heidegger, e amizades profundas, como a de Walter Benjamin. Fugiu da Alemanha nazista, foi internada em Gurs, atravessou a Espanha franquista e escapou pela última rota possível rumo aos EUA. Sua condição de apátrida e o suicídio de Benjamin marcaram sua obra para sempre. Autora de As Origens do Totalitarismo e da ideia da “banalidade do mal”, Arendt desafiou ortodoxias e recusou rótulos. Meio século depois, sua lucidez ainda ilumina a pergunta central de nosso tempo: como permanecer humano diante das forças que querem nos desumanizar?
A escravidão foi abolida nas leis, mas não no mundo real. O Dia Internacional para a Abolição da Escravatura, marcado pela ONU, nos lembra que milhões ainda vivem sob exploração extrema – em fazendas isoladas, confecções clandestinas, fronteiras porosas e redes globais de tráfico humano. A Convenção de 1949 denunciou essa realidade, mas 75 anos depois a liberdade continua um privilégio, não um direito. Este texto busca revelar o que ainda nos mantém presos ao passado.
A derrubada dos vetos de Lula à lei ambiental pelo Congresso não é apenas um revés político: é uma derrota moral e civilizatória para o Brasil. Este texto analisa a diferença entre perder pelas coisas certas e vencer pelas erradas, dialogando com pensadores como Kant, Hannah Arendt e Michael Sandel. Mostra como a ciência, a ética pública e a filosofia convergem ao alertar para escolhas que comprometem o futuro em nome de vitórias imediatas. No contexto da emergência climática, a flexibilização ambiental aprovada é um retrocesso profundo. O Brasil perde sua chance de agir como guardião de si mesmo. E o texto se encerra com a reflexão de Darcy Ribeiro sobre os “fracassos vitoriosos” – um lembrete poderoso de que dignidade é, muitas vezes, a única vitória que realmente importa.
Cinquenta anos após sua criação, a Operação Condor revela-se mais do que um pacto entre ditaduras: foi a maior rede de repressão transnacional da história sul-americana. De 1975 aos anos 1980, governos do Cone Sul coordenaram sequestros, torturas, assassinatos e os sinistros ‘voos da morte’. Documentos recém-expostos mostram que o Brasil não foi coadjuvante, mas peça ativa na engrenagem – da troca de informações ao silêncio diplomático sobre desaparecidos. Este episódio reconstrói, em detalhes, como funcionou a máquina continental do terror e por que sua memória ainda é uma ferida aberta.
Em 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas foi deposto sem tiros, sem barricadas e sem insurreição popular — e esse silêncio marca o início de um padrão brasileiro: as grandes rupturas políticas quase nunca nascem das ruas, mas dos pactos de elites que decidem o fim de um ciclo do poder antes que o país perceba. A queda do Estado Novo acontece no mesmo ano em que o boogie woogie chega ao Brasil pelo rádio. O Brasil mudava de regime… ao mesmo tempo em que mudava de ritmo. Getúlio cairia, voltaria eleito em 1951, e deixaria a vida em 1954 – adiando, segundo muitos historiadores, o golpe militar por dez anos.
Neste episódio, Relatos – A Estação da História revisita a cena do Catete, o diálogo final entre Vargas e Cordeiro de Farias, o Queremismo, a Novembrada de Lott e o nascimento de um modelo de ruptura que atravessaria 1954, 1955 e chegaria a 1964. Porque a História brasileira não costuma mudar quando o povo grita – ela muda quando poucos, nos bastidores, decidem. Ouça, reflita e compare.
