1985, o ano que enterrou a ditadura militar

Tancredo, entre Risoleta Neves e Ulysses Guimarães, comemora a vitória no Colégio Eleitoral. Foto: Agência Senado

TRANSCRIÇÃO DO PODCAST

E aí, pessoal! Bem-vindos ao podcast Relatos – a Estação da História. Imagine a cena: o Congresso Nacional com as galerias lotadas, o povo nas ruas, e aí surge a notícia que o país tanto esperava: Tancredo Neves foi eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral, com 480 votos contra 180 de Paulo Maluf, o candidato da ditadura militar. O povo comemorou nas ruas como se fosse conquista de Copa do Mundo pelo Brasil. Ocorrido em 15 de janeiro de 1985, o episódio marcou o fim de uma era e o começo de outra. A cena, que simboliza o início da redemocratização no Brasil, completa 40 ano

“Foi a última eleição indireta do país,” [Fala de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral que o elegeu presidente da República.]

Mas, como a gente sabe, a história não é um conto de fadas. Tancredo não chegou a assumir a presidência em 15 de março de 1985. No lugar dele, tomou posse o vice-presidente eleito, José Sarney. Tancredo adoeceu antes da posse e morreu em 21 de abril de 1985. Foi um baque enorme para o país, mas o processo de redemocratização prosseguiu na fase conhecida como Nova República. Não foi fácil: com a economia em ruína, o Brasil entrou na era dos planos econômicos que não davam certo (assunto para um outro podcast, nos próximos dias).

Mas, peraí, como a gente chegou até aqui? Porque não foi do dia pra noite que a ditadura caiu, né? Vamos recuar um pouco no tempo. A década de 1980 foi um turbilhão. O regime militar já estava com os pés de barro. E o tal “milagre econômico” dos anos 1970? Bom, era mais propaganda do que realidade. A economia estava afundando, a inflação nas alturas, o desemprego batendo recorde… E o povo? Ah, o povo estava cansado, viu?

“A emenda das diretas hoje faz parte da riqueza nacional, faz parte deste momento histórico que o país vive. Não há dúvida de que a coisa mais bela que aconteceu neste movimento cívico foi a energia despertada por 130 milhões de brasileiros.” [Fala de Dante de Oliveira, autor da emenda das Diretas Já.


E foi aí que entrou em cena um dos maiores movimentos populares da nossa história: as Diretas Já! Milhões de pessoas foram para as ruas exigir o direito de votar diretamente para presidente da República. A emenda Dante de Oliveira, que propunha isso, não passou no Congresso, em 1984, mas a pressão popular foi tão grande que o regime começou a balançar. A ditadura estava com os dias contados.

“Atenção! As galerias não podem se manifestar. A proposta foi rejeitada pela Câmara. Deixa assim de ser submetida ao Senado. (…) Está encerrada a sessão.” [Fala do presidente da Câmara dos Deputados anunciando o resultado da votação da proposta das Diretas Já, interrompido pelas manifestações das galerias que exigiam o direito de votar para presidente da República.

E não foi só nas ruas que a galera se mobilizou, não. As greves operárias do ABC Paulista foram um tapa na cara do regime. A classe trabalhadora, que tinha sido silenciada por anos, voltou a ter voz. E olha só que interessante: mesmo dentro do próprio regime militar, as coisas não estavam tão tranquilas. Havia a linha dura, que queria manter o autoritarismo a qualquer custo, e os “moderados”, que defendiam uma abertura lenta e gradual, do tipo entregar os aneis para não perder os dedos.

E aí, em 1985, veio aquela virada citada no início do podcast. Mas a redemocratização não se limitava a retirar os militares do poder. Era preciso reconstruir o país, reconectar as relações políticas e refazer o tecido social. E aí veio a Constituição de 1988, conhecida como a “Constituição Cidadã”. Foi um marco! Ela garantiu direitos básicos, como saúde, educação e liberdade de expressão – regras civilizatórias que moldam nossa convivência social até hoje.

“Promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia. Bradamos por imposição de sua honra. Temos ódio a ditadura – ódio e nojo! Amaldiçoamos a tirania, onde quer que ela desgrace homens e nações.” [Fala de Ulysses Guimarães ao promulgar a Constituição de 1988.]

Mas, claro, nem tudo foi tranquilo. A ditadura deixou um legado pesado: economia destruída, inflação nas alturas, corrupção encoberta pela censura… E as cicatrizes da repressão ainda doíam. Torturas, desaparecimentos forçados… Tudo isso faz parte da nossa história, e a gente não pode esquecer.
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CRÉDITOS:

• Texto, roteiro e edição de áudio: Djalba Lima

• Efeitos sonoros: FreeSFX.co.uk

• Áudios de personagens da história: arquivos do Senado e da Câmara dos Deputados

• Fotos: Agência Senado e Agência Câmara


Manifestação pelas diretas já, em 1984: a maior manifestação popular do Brasil

djalba.lima@gmail.com Escrito por:

3 Comentários

  1. Hyago Sena Cardoso
    março 13, 2025
    Responder

    Sensacional! Gostei muito da maneira que foi feito, objetivo e direto ao ponto! Sigo acompanhando!

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