Morte de Kennedy: CIA rompe silêncio e revela papel de agente secreto

Página de um dos 40 documentos do dossiê Joannides divulgado pela CIA

TRANSCRIÇÃO DO PODCAST

Djalba: Em 3 de julho de 2025, a CIA quebrou décadas de silêncio ao reconhecer o envolvimento direto do agente George Joannides em eventos que antecederam o assassinato do presidente norte-americano John Fritzgerald Kennedy, em 22 de novembro de 1963. Joannides, especialista em guerra psicológica, supervisionava e financiava os ativistas cubanos que confrontaram publicamente Lee Harvey Oswald, o suposto assassino de Kennedy. A revelação lança nova luz sobre a construção da narrativa que envolveu Oswald e reabre questões cruciais: teria a CIA manipulado a opinião pública? Por que o homem que poderia esclarecer tudo foi justamente quem apagou as pistas? E por que foi condecorado após sabotar o inquérito do Congresso norte-americano? Este episódio de Relatos – A Estação da História revela os bastidores de uma trama que, mais de 60 anos depois, ainda assombra os arquivos secretos de Langley.

Samara: No episódio anterior de Relatos – A Estação da História, explicamos como parte da verdade sobre o assassinato de John Kennedy continuava trancada a sete chaves. Tratava-se exatamente dos arquivos de George Joannides, objeto de uma disputa judicial de mais de 20 anos entre a CIA e o jornalista Jefferson Morley.  Hoje, trazemos uma revelação que muda uma parte do jogo. O personagem-chave dessa virada é George Joannides. Quem era ele?

Djalba: George Efythron Joannides, nascido em 1922, filho de gregos, era um agente da CIA com especialização em guerra psicológica. Em 1963, ele atuava na estação JM/WAVE em Miami, um dos maiores centros de operações da CIA no mundo fora de Langley, a sede da agência de inteligência. Joannides chefiava a relação com o Diretório Revolucionário Estudantil (DRE), um grupo anticastrista formado por exilados cubanos. O que não se sabia até recentemente: os membros do DRE, sob supervisão e financiamento direto de Joannides, foram os responsáveis por denunciar publicamente Lee Harvey Oswald como um comunista radical.

Samara: Em agosto de 1963, em Nova Orleans, Lee Harvey Oswald distribuía panfletos a favor de Fidel Castro. Um dos panfletos dizia: “Tire as mãos de Cuba”, em alusão às ações norte-americanas contra o país caribenho. Ele se envolveu em uma briga com membros do DRE, que o denunciaram em estações de rádio e jornais locais por ligações com Cuba. Aquela ação ajudou a construir uma imagem pública de Oswald como um simpatizante comunista – e tudo isso aconteceu com ajuda de Joannides. Um mês depois, em setembro de 1963, Oswald viajou para a Cidade do México a fim de pedir vistos às embaixadas de Cuba e da União Soviética, e lá foi monitorado pela CIA. Com dois programas poderosos de escuta e grampo telefônico,  a CIA captou todos os movimentos de Oswald em sua incursão mexicana. Esses dois episódios –  em Nova Orleans e na Cidade do México – mostram, claramente, que a agência não poderia alegar desconhecimento das atividades prévias do homem que foi apresentado como o matador de Kennedy em novembro de 1963.

Djalba: E agora vem o fato mais perturbador. Em 1978, quando o Congresso dos Estados Unidos reabriu as investigações sobre o assassinato de Kennedy, adivinhe quem foi designado pela CIA para servir como “oficial de ligação” com o comitê? O próprio Joannides. Mas ele jamais revelou que havia sido o supervisor do grupo que confrontou Oswald. Em outras palavras: o homem que poderia lançar luz sobre o caso foi colocado exatamente na posição de apagá-la. Segundo Robert Blakely, então diretor do comitê de investigação do Congresso, a CIA cometeu “obstrução da verdade”.

Samara: A CIA divulgou 40 dos 44 documentos do dossiê Joannides – portanto, ainda são desconhecidos 4 documentos. Nem todos os 40 documentos que se tornaram públicos em 3 de julho de 2025 foram totalmente analisados, mas agora sabe-se um pouco mais sobre esse lado obscuro da história. Quais são os principais pontos conhecidos até o momento?

Djalba: Vamos lá! Primeiro ponto: depois de 62 anos, a CIA admitiu que um oficial especializado em guerra psicológica acompanhou de perto as atividades de Lee Harvey Oswald antes de ele matar Kennedy em 22 de novembro de 1963. Segundo ponto: um memorando da CIA de 17 de janeiro de 1963 revela que Joannides foi instruído a portar uma carteira de motorista falsa com o nome de “Howard Gebler”. Terceiro ponto: a CIA negava que Joannides fosse “Howard”, nome do contato da agência que trabalhava com ativistas do grupo anticomunista que se opunha ao dirigente cubano Fidel Castro. Questionado pelo comitê da investigação da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, sobre as atividades de “Howard”, o próprio Joannides garantiu que “eles [a CIA] não conseguiram encontrar nenhum registro de nenhum policial” com a designação de acompanhar o DRE. Quarto ponto: a CIA sempre negou ligação com esse grupo, o DRE, mas foi graças ao vínculo até agora desconhecido que a agência pôde divulgar, imediatamente após a morte de Kennedy, que o assassino era simpatizante de Fidel Castro.

Samara: Jefferson Morley, jornalista que batalhou na Justiça para descobrir a verdade sobre esse assunto, disse: “A história de fachada sobre Joannides está oficialmente morta”. Segundo ele, o grande fato é que a CIA está mudando de postura sobre Lee Harvey Oswald. Conforme Morley, a CIA finalmente admite que Joannides era o responsável pela guerra psicológica e pelo financiamento das ações do DRE justamente nas semanas que antecederam o assassinato de Kennedy.

Djalba: Se Joannides sabia dos movimentos de Oswald…

Se seus agentes confrontaram e denunciaram publicamente o suposto assassino…

Por que a CIA escondeu isso por 62 anos?

Teria Oswald sido manipulado como bode expiatório?

Ou pior: seria o episódio com o DRE parte de um cenário plantado – uma “preparação” da opinião pública para o que viria?

As respostas talvez ainda estejam nos documentos que a CIA insiste em manter sob sigilo.

Samara: O mais intrigante é que, em março de 1981, pouco mais de dois anos após sabotar os trabalhos do Comitê de Investigação do Congresso, George Joannides foi condecorado com a Medalha de Inteligência por Serviços de Carreira, uma das maiores honrarias da CIA. Isso mesmo. Ele foi premiado pela agência após ter obstruído um inquérito oficial que buscava esclarecer um dos maiores mistérios da história dos Estados Unidos. Robert Blakey, do Comitê da Câmara de Representantes encarregado de investigar o assassinato, declarou anos depois: “Joannides enganou o Congresso e sabotou nosso trabalho. Se soubéssemos quem ele era de fato, jamais teria sido nomeado.”

Djalba: Termino aqui com uma pergunta: a CIA premiou Joannides por seus serviços à nação – ou por sua lealdade a um silêncio conveniente?

Samara: Você assistiu a mais um episódio de Relatos – A Estação da História. Fique de olho nos próximos episódios. Se quiser comentar, entre em relatos.blog.br e deixe sua opinião. Se tiver gostado, compartilhe com amigos. 

CRÉDITOS:

Relatos – A Estação da História

Texto, roteiro e edição de áudio: Djalba Lima

•  Efeitos sonoros: FreeSFX.co.uk

djalba.lima@gmail.com Escrito por:

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