A carta da velha senhora que enganou o Reich

Blitz de Londres, como ficaram conhecidos os bombardeios feitos pela Alemanha entre 1940 e 1941

TRANSCRIÇÃO DO PODCAST
Fala, pessoal! Sejam bem-vindos a mais um episódio de Relatos – A Estação da História! Hoje, vamos explorar um dos mistérios mais intrigantes da Segunda Guerra Mundial… Uma história de espionagem e de intriga, e uma carta que – acreditem se quiserem – pode ter influenciado o curso da guerra.

Então, se ajeitem aí, porque essa história tem reviravoltas dignas de um filme de espionagem!

Imagina só: estamos em 1940. A Alemanha nazista já domina boa parte da Europa, e a Grã-Bretanha está ali, sozinha, tentando resistir. Depois da queda da França, a invasão da Grã-Bretanha parece iminente. E, nesse cenário, os britânicos precisarão de algo essencial: tempo.

Tempo para se rearmar, tempo pra esperar os americanos entrarem na guerra. E é aí que entra uma senhorinha britânica e uma carta… que ninguém poderia imaginar que fariam parte de um grande jogo de espionagem.

Essa senhora era Violet Roberts, uma britânica que, antes da guerra, havia mantido uma grande amizade com Karl Haushofer, um influente professor alemão de geopolítica – na verdade, o guru de Hitler. Karl e seu filho Albrecht tinham acesso direto a Rudolf Hess, o vice-führer da Alemanha nazista. Hitler costumava frequentar a casa de Karl nos fins de semana, onde comia refeições preparadas pela esposa do anfitrião, Martha, que era judia – um detalhe curioso que não poderíamos deixar de citar.

Quando os serviços secretos britânicos perceberam essa conexão, viram uma chance de jogar uma isca. E que isca!

A tal carta de Violet Roberts, na verdade, foi inspirada pelo serviço secreto britânico. No livro “A missão secreta de Rudolf Hess”, o autor Martin Allen levanta a possibilidade de um sobrinho de Violet, Walter, ter levado para ela um rascunho em que mencionaria os horrores da guerra e o desejo dela pela paz europeia. O teor da carta teria sido inteligentemente engendrado pelos especialistas da SO1 para surtir efeito certeiro, segundo Martin Allen. A SO1 era um dos braços do serviço de inteligência no Reino Unido. Uma ideia? Criar um canal de comunicação com Hess, demonstrando – de forma bem sutil – que a Grã-Bretanha poderia estar aberta a negociações de paz com os nazistas.

E adivinha para onde a resposta da carta deveria ser enviada? Caixa Postal 506, em Lisboa, Portugal. Um endereço usado pelo serviço de inteligência britânico na capital portuguesa. Os nazistas jamais suspeitariam, por se tratar de um país neutro na guerra.

A carta era, obviamente, um blefe! Os britânicos não pretendiam negociar de verdade. Um hipotético acordo de paz da Grã-Bretanha com a Alemanha, na época, significaria entregar a Europa de bandeja para Hitler. Obviamente isso não estava nos planos do primeiro-ministro britânico Winston Churchill. O plano era outro – plantar uma dúvida na cabeça dos alemães, fazer Hitler e seus comandantes hesitarem, para ganhar o tempo precioso e, quem sabe, atrasar uma possível invasão.
Foi arriscado? Com certeza foi! Mas em tempos de guerra, qualquer vantagem conta, e o jogo limpo em negociação é a primeira vítima. Veja o que diz Martin Allen:

– A carta de Violet Roberts para o professor Karl Haushofer foi a primeira cartada de um jogo mortal que eles tinham que vencer para sobreviver.

E será que funcionou? Bem… em partes. A história diz que esse clima de incerteza pode ter influenciado uma das decisões mais bizarras da guerra: o voo solo de Rudolf Hess para a Escócia, em seu Messerschmitt Bf 110, em maio de 1941. Hess queria abrir uma janela de negociação entre a Alemanha e o Reino Unido para juntos enfrentarem a União Soviética.
Mas, como a gente sabe, a missão de Rudolf Hess na Escócia deu pane. Seu Messerschmitt Bf 110 se espatifou no chão da Escócia, na noite de 10 de maio de 1941. Antes, Hess conseguiu ser ejetado no escuro e só machucou o pé, mas passou o resto da vida na cadeia, inicialmente no Reino Unido e depois na Alemanha. Foi julgado em Nuremberg e condenado à prisão perpétua. Morreu em 17 de agosto de 1987, na Prisão de Spandau, em Berlim.

A carta de Violet Roberts é um desses detalhes quase esquecidos da guerra, mas que mostra como os bastidores da inteligência eram um jogo de xadrez de alto nível – considerações éticas, à parte. Até hoje, ninguém sabe ao certo o que estava escrito nessa carta, mas o que importa é o impacto que ela teve – e como um simples pedaço de papel pode ter influenciado decisões gigantescas.

E aí, o que vocês acham? Uma carta pode mesmo mudar o curso de uma guerra? Conta pra gente nos comentários!

Se curtiu essa história, compartilhe e siga o podcast pra não perder nenhum episódio!

SERVIÇO
O livro A missão secreta de Rudolf Hess, de Martin Allen, está disponível em edição brasileira da Editora Record.

Esse foi mais um episódio de Relatos – A Estação da História! A gente se vê no próximo episódio, porque, ó… a história ainda tem muitos segredos esperando ser desvendados.

Até lá!

CRÉDITOS

• Texto, roteiro e edição de áudio: Djalba Lima

• Efeitos sonoros: FreeSFX.co.uk

• Foto: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0

djalba.lima@gmail.com Escrito por:

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