Morte de Kennedy: o que revelam novos documentos secretos da CIA

Por DJALBA LIMA

TRANSCRIÇÃO DO PODCAST

Djalba: 22 de novembro de 1963. Era uma sexta-feira ensolarada em Dallas. Ao meio-dia, a temperatura rondava os 21 graus. Céu limpo. Nenhuma ameaça no horizonte – exceto aquela que ninguém via.

Samara: O presidente John Fritzgerald Kennedy, 46 anos, desfilava em carro aberto pela Dealey Plaza, ao lado da primeira-dama, Jackie, com vestido rosa e chapéu combinando. No banco da frente, o governador do Texas, John Connally, e sua esposa.

Djalba: Eram 12h30 quando os disparos vieram. Três tiros, segundo a versão oficial. O primeiro errou. O segundo atingiu o pescoço de Kennedy e as costas de Connally. O terceiro foi fatal: perfurou o crânio do presidente, espalhando fragmentos e horror.

Samara: A limusine que conduzia o presidente acelerou em direção ao Parkland Memorial Hospital. Em vão: às 13h, Kennedy foi declarado morto.

Djalba: Nos minutos seguintes, as ruas de Dallas viraram cenário de confusão. Pouco depois, a polícia prendeu Lee Harvey Oswald – um ex-fuzileiro naval que havia desertado para a União Soviética anos antes e que trabalhava no Depósito de Livros Didáticos do Texas, de onde se acreditava que os tiros haviam partido.

Samara: Ele foi detido inicialmente por ter matado um policial, J.D. Tippit, cerca de 45 minutos após o assassinato presidencial. Mas em poucas horas seria apresentado à imprensa como o assassino de Kennedy.

Djalba: Dois dias depois, com o mundo ainda em choque, Oswald foi assassinado por Jack Ruby, diante das câmeras de televisão, enquanto estava sendo transferido da delegacia de polícia para a cadeia do condado. Ruby era um dono de boate e tinha supostos laços com o submundo de Chicago.

Samara: Assim, em apenas 48 horas, o suspeito foi silenciado. E com ele, desapareceu o principal fio de uma trama que, até hoje, ninguém consegue desatar completamente.

Djalba: Mas por trás da cena pública, havia sombras em movimento. Documentos secretos, omissões e uma guerra fria dentro do próprio governo. É disso que tratam os arquivos liberados em 2025 – e é para eles que voltamos agora.

Samara: Sim, graças a um tsunami de mais de 80 mil páginas recém-desclassificadas por ordem do presidente Donald Trump, em 18 de março de 2025, temos novas pistas – e novos enigmas.

Djalba: Neste episódio de Relatos – A Estação da História, vamos destrinchar os papéis secretos, os fracassos épicos e as gravações comprometedoras que ligam Kennedy, CIA, Cuba… e até um certo padre-espião no interior do México.

Samara: Vamos fazer um pequeno recuo no tempo e falar sobre um episódio que provocou o divórcio entre Kennedy e a CIA, a poderosa agência de inteligência dos Estados Unidos.

Djalba: Estamos em abril de 1961. A CIA convence o novato presidente Kennedy a autorizar a Invasão da Baía dos Porcos, usando um grupo de exilados cubanos treinados nos Estados Unidos. Final do filme? Invasores rendidos e aprisionados na praia, Moscou gargalhando e Kennedy fumegando de ódio pela enrascada em que foi colocado por sua agência de inteligência.

Samara: Diante da humilhação internacional, Kennedy teria decretado diante dos assessores: “Quero destruir a CIA em mil pedaços e espalhá-los ao vento.” E não era metáfora – era fúria presidencial pura.

Djalba: Spoiler: os pedaços da Cia continuaram inteiros… mas a guerra fria entre presidente e sua agência de inteligência não arrefeceu. Agora, vamos falar de um turista norte-americano no México – com um detalhe: ele estava sob forte vigilância.

Samara: Voltamos a setembro de 1963. O ex-fuzileiro naval norte-americano Lee Harvey Oswald, aquele apresentado como autor dos disparos que mataram Kennedy, desembarcou na Cidade do México. Ele correu às embaixadas de Cuba e da URSS pedindo vistos. Adivinha quem já estava pendurado no fio?

Djalba: A CIA, que, com os programas LIENVOY (grampos telefônicos) e LIFEAT (microfones em apartamentos), captava cada sussurro de Oswald em sua incursão mexicana.

Samara: Era tanta escuta que, se ele pedisse um taco por delivery, provavelmente haveria um relatório em três cópias.

Djalba: Mesmo assim, a CIA não avisou o FBI nem o Serviço Secreto dos movimentos suspeitos. Erro ou omissão calculada? A pergunta atravessa mais de 60 anos sem resposta.

Samara: O que Nixon sabia sobre a morte de Kennedy? O estranho uso do código “Baía dos Porcos” dá o que pensar…

Djalba: Sim, no escândalo Watergate, em 1972, o então presidente Richard Nixon foi gravado dizendo a seu chefe de gabinete, Harry Haldeman, no Salão Oval da Casa Branca:
“They should call the FBI in and say that we wish, for the country, … don’t go any further into this case. It’s gonna open up the whole Bay of Pigs thing again.”
Em tradução livre, seria algo como: “”Eles [a Cia] deveriam chamar o FBI e dizer que desejamos, pelo país, … que não se aprofundem neste caso [Watergate]. Isso vai abrir toda aquela história da Baía dos Porcos de novo.”
A expressão “Baía dos Porcos” parecia um código cifrado.
Haldeman levou a instrução ao diretor da CIA, Richard Helms. O silêncio nervoso de Helms, na ocasião, alimentou as suspeitas. Dizem que o susto do então diretor da CIA foi tão grande que ele quase arrancou o braço da poltrona em que estava sentado.
Em sua tentativa de abafar Watergate, Nixon estaria sugerindo que a investigação do caso poderia levar à revelação de conexões secretas e inconvenientes entre CIA, Cuba e o assassinato de Kennedy? Teria sido uma tentativa de chantagem de Nixon?

Samara: Avançamos para 1975. O escândalo Watergate ainda fumegava quando o senador Frank Church abriu a caixa-preta da espionagem doméstica. Ao vivo na TV, ele alertou para o risco de a CIA “virar uma ameaça à própria democracia”, se não fosse controlada.

Djalba: Detalhe: parte dos abusos incluía esconder da Comissão Warren pistas sobre… adivinha quem? Lee Harvey Oswald, o suposto atirador que matou Kennedy. A Comissão Warren foi criada em 29 de novembro de 1963 pelo presidente dos Estados Unidos Lyndon Johnson, para investigar o assassinato de Kennedy.

Samara: Como podemos resumir em poucas palavras todas essas conexões?

Djalba: Vamos tentar: a ordem executiva 14176, assinada em 2025 por Donald Trump, liberou um caldeirão de memorandos, transcrições e relatórios. Resumindo o que se sabe até agora:

  • A CIA conhecia bem mais sobre Oswald do que se supunha – inclusive suas ligações interceptadas do México.
  • Kennedy planejava remodelar a agência – e não era só trocar o logotipo. Era uma mudança radical!
  • Operações exóticas – De sal químico para tirar a barba de Fidel Castro a açúcar contaminado em navio soviético, havia na ação da Cia muitas coisas que expunham o lado amadorístico e grotesco da agência de inteligência norte-americana. Se você quiser saber mais sobre essas operações bizarras, ouça meu podcast Documentos secretos da Cia – o império age na sombra.

Samara: E o caso do padre-espião?

Djalba: Essa é uma descoberta colateral e curiosa. Um relatório do inspetor-geral da CIA, datado de 1º de janeiro de 1964 e liberado ao público em 2025, descreve um sacerdote católico atuando como agente principal de coleta de informações no México. Ligado a projetos em áreas rurais, ele mapeava redes de apoio à esquerda e facilitava o acesso da CIA a informações sensíveis por meio de fontes confiáveis – como seminaristas e líderes locais. Embora não envolvido diretamente na instalação dos esquemas de escuta, seu papel como elo social e religioso ajudava a legitimar a presença americana em territórios onde os programas LIENVOY e LIFEAT já estavam em operação.

Samara: Um confessionário que valia ouro: acesso a representações diplomáticas, fazendas, escolas e até prisões, tudo devidamente microfonado. Pecado capital? Talvez. Capital político? Com certeza.
Mas, então, a CIA matou Kennedy?

Djalba: Os papéis revelados em 2025 não permitem nenhuma conclusão nesse sentido, mas deixam um rastro de:

  • encobrimentos deliberados,
  • rivalidades internas,
  • e um cartel de operações clandestinas que funcionava com autonomia alarmante.

Samara: É como montar um quebra-cabeça de 5 mil peças… faltando justamente as peças do meio.

Djalba: Por ora, o veredito é de dúvida razoável. Mas, convenhamos, dúvida demais já diz alguma coisa.

Samara: Quer mais? No próximo Relatos destrinchamos a batalha judicial do jornalista Jefferson Morley para arrancar o resto dos segredos da CIA. Prepare-se: a briga inclui juízes impacientes, advogados espertos e… silenciosos corredores em Langley, Virgínia – a sede da CIA.

Djalba: Até lá E lembre-se: em política e espionagem, o diabo mora nos detalhes – e os detalhes, muitas vezes, ficam em caixas com selo vermelho.

Samara: Relatos – A Estação da História

  • Texto, roteiro e edição de áudio: Djalba Lima
  • Efeitos sonoros: Free SFX.co.uk

Se quiser comentar este episódio, entre em relatos.blog.br e deixe sua opinião. Se tiver gostado, compartilhe com os amigos. Fique de olho no próximo episódio!

djalba.lima@gmail.com Escrito por:

seja o primeiro a comentar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *