Por DJALBA LIMA (*)
Eles tinham um plano. Ou algo que, visto de longe, muito de longe, lembrava um plano.
Era grandioso, épico e cinematográfico: envolver Washington, constranger o Supremo, humilhar Alexandre de Moraes, acionar a Lei Magnitsky como uma espada medieval e, no ato final, receber a bênção do grande imperador laranja, Donald Trump, que surgiria do Norte como libertador dos trópicos.
O problema é que o roteiro era ruim. E a História não perdoa roteiristas amadores.
Assim nasceu o Exército de Brancaleone bolsonarista, um bando de cavaleiros sem cavalo, generais sem tropa e diplomatas de WhatsApp, marchando com incrível confiança… na direção errada. Tinham mapas desenhados à mão, bússolas quebradas e uma fé inabalável de que bravata substitui geopolítica.
Trump era a boia. A última esperança flutuando no mar revolto das investigações, processos e decisões judiciais. Agarraram-se a ela como náufragos que confundem miragem com terra firme. Juraram que ele viria. Que interviria. Que puniria. Que salvaria.
Havia quem garantisse, com ar grave, dedo em riste e tom de revelação, que porta-aviões americanos estavam a caminho do Lago Paranoá. Talvez, como cenas de cinema da Segunda Guerra, tropas americanas entrassem triunfantes pelo Eixo Monumental. Talvez atracassem ao lado do Congresso. Outros sugeriram começar os bombardeios pelo Rio de Janeiro. Afinal, no mundo lunático que construíram, a física, a diplomacia e o bom senso já haviam sido revogados.
Mas eis que a realidade, essa senhora cruel e sem senso de humor, resolveu aparecer. Sem discursos. Sem lives. Sem memes.
O governo dos Estados Unidos simplesmente retirou Alexandre de Moraes e sua esposa da lista da Lei Magnitsky, como quem fecha uma aba irrelevante no navegador. Um clique seco. Um gesto administrativo. Um vexame histórico para quem havia prometido um terremoto diplomático.
E ali, naquele instante, o Exército de Brancaleone percebeu que marchava sozinho. Trump recolheu a boia. O mar ficou aberto. E a trupe, sem remo, nem rumo, começou a girar em círculos.
O que se seguiu foi o silêncio típico dos derrotados pelo próprio delírio. Nenhuma explicação convincente. Nenhum plano B. Apenas a tentativa patética de fingir que nada havia sido prometido, que nada havia sido anunciado, que ninguém jamais falou em sanções, castigos exemplares ou porta-aviões no cerrado.
Mas a crônica política é implacável: ela anota tudo.
O bolsonarismo internacionalizado revelou-se aquilo que sempre foi: um Brancaleone tropical, convencido de que o mundo funciona como um grupo de Telegram, onde basta repetir uma mentira com convicção para que ela vire fato – e onde a política externa é confundida com torcida organizada.
Eles não foram derrotados por Moraes. Nem pelo STF. Nem por Washington.
Foram derrotados pelo próprio enredo mal escrito.
Porque, no fim, não há império disposto a bancar delírios alheios. Não há potência que compre bravata como moeda. E não há salvação externa para quem construiu um universo paralelo e passou a acreditar nele.
Restou a cena final — digna de Monicelli: o Exército de Brancaleone, suado, confuso, armado de certezas falsas, olhando o horizonte vazio e perguntando-se, em coro:
— Ué… cadê todo mundo?
A História, como sempre, já tinha ido embora.
(*) DJALBA LIMA é jornalista, editor de Relatos – A Estação da História e cronista nas horas vagas neste espaço.
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Rarrarrá! Tragicomédia contemporânea!
A realidade pode não ter senso de humor, mas o texto mostra que a sátira é a forma ideal para retratar o irrealismo típico do bolsonarismo.
Kkkkkk! Adorei o “Exército de Brancaleone Bolsonarista”. Melhor definição do ano para essas horda de fascistas ! Parabéns Djalba Lima!